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O FARFALHAR DA BANDEIRA NACIONAL

  • Foto do escritor: Nei Damo
    Nei Damo
  • 20 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Em tempos de pandemia, quando o governo colocou policiais em lugares públicos para orientar os transeuntes a ficar em casa, eu me atrevi a caminhar na praça. Fiz isto porque eu estava acostumado a caminhar todos os dias.

Tentei por três dias me aquietar em casa, mas aconteceu de me esquentarem os músculos das pernas e me acometer de cãibras seguidas. Entendi que eu deveria retomar as caminhadas, e então arrisquei uma caminhada na praça.

Ao botar o nariz para fora do portão do edifício, logo notei o silêncio das ruas, igual ao silêncio das ruas nas madrugadas da minha adolescência. Com algumas dezenas de passos e eu já estava na praça.

Do outro lado da avenida, no passeio lotado dos dias anteriores ao anúncio da transmissão comunitária do vírus, havia pessoas caminhando, mas coisa de menos de um de cada dez do que era.

Verifiquei com cuidado o trajeto que eu poderia fazer, verifiquei que não havia policiamento e ponderei os encontros com meus semelhantes. Conclui que, pelo trajeto escolhido e pelas alternativas de desvio nos meandros da praça, raros seriam os cruzamentos.

Passo firme, fui em frente.

Ao adentrar mais no interior da praça, novamente me estalou na cabeça o silêncio, com um ruído se sobressaindo de dentro dele. Minha memória auditiva me fez levantar a cabeça e, por entre as árvores, vi a bandeira do Brasil tremulando ao vento, no alto de um edifício perto da praça.

Lembrei com emoção, certamente aumentada pela assustadora pandemia, do hasteamento da bandeira do meu tempo de primeiro grau.

Era bonito aquilo.

O terminar de cantar o hino culminava com a chegada da bandeira no topo do mastro e, se havia vento forte, se escutava o farfalhar do tecido da bandeira. Aquilo também era bonito.

Sempre caminhei na praça e na calçada da avenida, e isto por mais de uma década, e nunca, nunca mesmo, eu escutei o barulho da bandeira no topo do edifício.

É voz corrente na cidade que, em determinados dias da semana, ali aconteciam festas, onde o ingresso caro e de diferentes categorias, tinha que ser adquirido com muita antecedência. No edifício, não meros hóspedes, executivos ou viajantes, mas empresários, políticos e, quando havia jogo local, o time inteiro de futebol.

O vento perpassando pela bandeira lá no alto, me induziu, de maneira muito lógica, a associar a imagem com o nosso país.

A bandeira tremulando é o Brasil, os empregados e terceirizados é o povo, e os hóspedes nestes dias de festa, são os políticos, os empresários e os ricos.

E qual a lição que a pandemia pode nos trazer?

A pandemia certamente vai passar, mas o pensamento do povo irá mudar?

Depois, os tempos serão melhores para o país?

Aprenderemos a escolher melhor nossos governantes? Os governantes, ah, os governantes. É deles que tudo depende.

O vereador que você conhece no seu bairro, ou lá da pequena cidade.

O prefeito, aquele que já foi prefeito, ou aquele que quer ser prefeito. Aquele candidato trabalhador, de boa índole, ou um que só aparece antes do pleito, deitando falação.

O deputado estadual, que tem até auxílio terno para se apresentar na Assembleia e proferir veementes discursos, ou aquele postulante ao cargo, que você sabe ser honesto.

O deputado federal que já fez muito pelo seu Estado e votou pelo bem da nação, ou o ladino de boa conversa.

O senador de boa história política, ou o jovem, que é conhecido pela ambição.

O presidente da república, tão fácil de conhecer pelo seu passado, ou o candidato que vem apoiado por políticos de má reputação.

Ao comprar qualquer coisa, isto é, em cada vez que você mete a mão no bolso para puxar a carteira, parte desse seu dinheiro vai para o governo pagar todas as despesas dos políticos, juntamente com as consequências dos seus erros ou acertos.

Pense então em aplicar bem seu dinheiro, de modo que haja um retorno para o bem do coletivo. É fácil fazer isto. É muito fácil, é extremamente fácil. Basta escolher bem seu candidato.

Minha esperança é que ao nos livrarmos desta tristeza dos dias atuais, algo mude na cabeça do eleitor, e que eu possa ver a bandeira do Brasil tremulando ao vento, para então poder sentir orgulho do nosso país.

Até aqui, quem escreveu isto foi o sonhador, que, quando ele fala, faz surgir o lado prático, que de imediato diz que nada disto vai acontecer. E não vai acontecer por uma razão simples: o noticioso.

 
 
 

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