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UM SUJEITO EMPREENDEDOR

  • Foto do escritor: Nei Damo
    Nei Damo
  • 4 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

História 09 da série Humor no Trecho

Até pouco tempo atrás, os estados dividiam seu território em regiões, quanto ao planejamento no setor rodoviário. Por região, geralmente localizadas na cidade maior, ainda existe uma Coordenadoria e, dentro daquela região, em algumas cidades, havia um Escritório de Fiscalização, encarregado de obras novas, e um de Conservação, encarregado, como diz seu nome, de conservar a malha rodoviária existente.

O Escritório de Conservação era chamado de Residência, isto porque um engenheiro com sua família, se casado, ali residia. Também, cada Residência era conhecida pela ordem com que foram criadas, em números ordinais. A Primeira Residência era sempre na capital do Estado, pois era na capital que tudo se iniciava, por ser o primeiro local povoado e desenvolvido.

Uma Residência tinha uma estrutura própria e forte: um setor de administração e controle, equipes de roçada, equipes de conservação geral, pessoal de acampamento, uma oficina completa, e patrulhas composta de trator, pá carregadeira, caminhões, patrola e rolo compactador. Tinha que ser assim, porque não haviam somente os serviços ordinários, mas também os extraordinários, onde a resposta tinha que ser imediata, como quedas de barreiras ou enchentes, e a produção do campo tinha que ter escoamento.

Um acampamento se montava com barracas, cozinha e tudo o mais, quando um serviço era mais demorado e distante da Residência, como o encascalhamento de um trecho, ou a construção de um desvio por queda de ponte.

A função do Engenheiro Residente era planejar os serviços e acompanhá-los, em visitas semanais, nas várias frentes. Numa das vistas ao serviço de roçada, o Engenheiro puxou conversa com um operário que estava sempre de mau humor, que vivia resmungando: “Este serviço não é pra mim”; “Este serviço não é pra mim”.

— Pedrão, você tem tudo aqui: um salário que não é ruim e comida boa. O que está havendo?

— Nada não doutor. Só que eu sinto que isto não é pra mim.

— Se não é coisa do corpo, talvez seja da cabeça! — disse rindo o Engenheiro. Quem sabe você não procura uma igreja. Vá rezar um pouco e pedir ajuda divina.

— Meu compadre me convida sempre. Acho que vou aceitar, e ver no que dá.

Com o passar do tempo, o Engenheiro notou que o Pedrão andava mais tranquilo no serviço.

— E aí, Pedrão! Vejo que você anda melhor de espírito.

— Sim doutor. Fui na igreja e estou aprendendo muito. Muito mesmo.

Passado uns três meses, o Pedrão se apresentou no escritório.

— Doutor, vim pedir as contas.

— Ué, Pedrão. Você estava bem. Alguma coisa te incomodou?

— Nada, doutor. É que apareceu outro negócio, e eu vou nessa.

Passado um ano e pouco, o Engenheiro Residente estava estacionando num parque de exposição de pecuária, que ele costumava assistir amiúde, quando estacionou ao seu lado uma camioneta top, daquelas de encher os olhos. Dela desceu um sujeito bem vestido, chapéu de vaqueiro, cinta com fivelão, tipo cantor sertanejo, e um dente reluzente de ouro na boca. Ao divisar o engenheiro, gritou:

— Doutor!!

O Engenheiro custou a reconhecer o vizinho que o saudava.

— Pedrão! Mas como? É você mesmo?

— Claro, doutor! E eu gostaria que me ajudasse a escolher alguns bezerros, que disto o senhor entende, para a minha fazenda no Mato Grosso!

— Mas... mas... você tirou a sorte grande na loteria?

— Coisa melhor, doutor, coisa melhor. Abri uma igreja!

 
 
 

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